Marcelo Bonfá Ex-integrante da Legião Urbana agora vende cachaça orgânica

Marcelo Bonfá não para. Além de tocar a carreira artística como baterista, o ex-Legião Urbana está investindo em um negócio inusitado ao olhar dos fãs. 

Há três anos, ele iniciou a produção da cachaça orgânica Perfeição, prestes a entrar no mercado carioca. O produto não utiliza química, como agrotóxicos, é feito de forma praticamente manual, e está sendo cultivado em Minas Gerais na fazenda do músico, que sempre se preocupou com a qualidade do que consome.
— O Renato (Russo) me dizia: “você precisa comer macarrão com salsicha, cara!”. Mas eu sou orgânico desde sempre — diz, rindo da história.

Como nasceu a ideia de produzir cachaça orgânica?

Marcelo Bonfá: A ideia é multifatorial. Tenho um sítio, há mais de 20 anos, na região da (Serra da) Mantiqueira (Minas), em Santo Antônio do Rio Grande. A vila foi crescendo e fiquei a fim de ficar por ali. Acabei comprando uma fazenda há uns dez anos, com amigos que estão por lá. Estava a fim de plantar café, na verdade. Eu tentei mas o solo não era legal, era meio úmido. A cana já estava lá, tinha dois hectares plantados. Dona Leontina, minha vizinha, tinha uma cachaça que eu gostei muito. Eu olhei pra cana, a cana olhou pra mim e comecei a pesquisar (risos). Isso por volta de 2008. Comecei a ver consultorias na internet, a ter informações sobre a cachaça, que a essa altura já estava normatizada no Brasil.

Aí você foi se envolvendo cada vez mais com o assunto?

Bonfá: É, e tem outra coisa: gosto de fazer intervenções. Então, fui fazendo interferências arquitetônicas no lugar. Eu pensei: tenho que vir mais aqui para ficar mais perto da cachoeira. Foi um caminho natural, porque sempre fui ligado à terra, desde a época do Legião. Então, comecei a produzir. Já temos 4,5 mil garrafas prontas. Esse ano é o terceiro ano de produção. Logo de cara, no primeiro lote, a cachaça ficou maravilhosa. Ela não sofre interferência de madeira. Fica ali, no tonel de inox, um ano mais ou menos. Fiz 2,5 mil garrafas da branquinha. Outros 2 mil da amarelinha, que foram para barris de carvalho.

Existe uma diferença entre o paladar da cachaça orgânica e a industrial?

Bonfá: Na verdade, todas as cachaças são diferentes, como o vinho, por exemplo. É uma bebida muito rica, não depende do fato de ser orgânica ou não. O que muda é forma de produção. Você tem que ter uma área pequena para cuidar manualmente. Lá na minha fazenda, apenas dois hectares são para produção. Não é uma cana que fico renovando com novas linhagens. Até tentei uma cana nova, mas numa região de 1,3 mil de atitude, elas não aguentam. Para aguentarem, tem que pôr química e isso eu não queria. Eu tinha um senhor produto adaptado, então decidi cuidar desse produto com carinho. O então presidente Fernando Henrique Cardoso fez um grande lance com relação à cachaça, para restringir e criar regras para a produção no Brasil. Agora o mundo inteiro aceita que a gente tem um grande produto.

Você sempre se interessou pelos produtos orgânicos?

Bonfá: Sou orgânico desde sempre. Sempre me preocupei com a saúde. Sempre nadei e gostei de esporte. E tem tudo muito a ver com alimentação. A Legião Urbana sempre tomava leitinho - e água (risos). Acho que você tem que ter um equilibrio, eu sou um equilibrista. Isso é fundamental em todos os níveis. Claro que em algumas coisas você vai mais radical. Eu sempre fui muito fresco pra comida. O Renato (Russo) dizia sempre pra mim: “você precisa comer macarrão com salsicha, cara! (risos)

Quem trabalha com você na produção da cachaça orgânica?

Bonfá: Tem uma pessoa na fazenda para isso, é um cara muito especial. Ele é filho do meu primeiro caseiro. Ele não para de trabalhar. Tem dom, conhece o tempo, o solo. Fizemos curso de mestre lambiqueiro. Lá, aprendemos a fazer o fermento da cachaça, por exemplo, sem usar farelo de milho, usando o farelo da cana. É tudo muito bem calculado no orgânico.

Vai colocar no mercado?

Bonfá: Ainda não começamos a vender. Elas estão estocadas. A cachaça envolve coisas como desenvolvimento de imagem. E falta ainda o selo que comprova o pagamento de um imposto para ela poder circular. Você paga o imposto antes de colocar à venda. Quero colocar a cachaça em lugares legais. O Marcos Palmeira quer, por exemplo (o ator tem um empório de orgânicos no Leblon). Ela deve ir, também, para um restaurante orgânico na Barra. É um lugar que serve feijoada orgânica. Tem um monte de gente querendo no Rio.

E a escolha do nome Perfeição, título da música do Legião...

Bonfá: Para mim a imagem tinha que estar associada ao mundo do rock ‘n’ roll. Então, tem a ver com a música, que é demais! O rótulo tem uma caveira para fechar a parada do rock. Foi o ilustrador Falcão que fez essa imagem. Ficou muito legal.

O Rio Gastronomia reforça a tecla da sustentabilidade e do consumo consciente de alimentos. O Rio tem movimentos fortes, como o Slow Food, e grupos, como o Maniva, que lutam por isso. Acha que é uma tendência?

Bonfá: É meio natural. Se você tem uma consciência do seu corpo, vai indo por esse caminho. Se não tem saúde, como faz? As pessoas chegam na prateleira, olham aquilo tudo lá, e não sabem que a produção é o cerne. Claro que tem a coisa vinda com a Revolução Industrial, a indústria é o caminho natural da humanidade, mas se perdeu um monte de coisa. Hoje você vê produtos dentro de saquinho, cara! Sorte que eu não gosto disso, sabe? Pô, você passa no lugar e vê a pessoa bebendo refrigerante! Eu penso: pô, bebe água, água é o lance. A gente é água.

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